BBC desmonta três alegações de Trump que relacionam autismo a paracetamol e vacinas

Em uma entrevista coletiva na Casa Branca, no domingo (21/9), o ex-presidente norte-americano Donald Trump, ao lado do secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr., afirmou que recomendações médicas sobre paracetamol e vacinas seriam revistas por supostas ligações com o autismo. A declaração foi recebida com críticas de entidades médicas e levou a BBC Verify a checar três pontos citados por Trump.

1. Diagnósticos de autismo estariam “explodindo” nos EUA

Trump afirmou que a prevalência de autismo saltou de “um a cada 10 mil” crianças, há 18 anos, para “um a cada 31” em 2025. Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que, em 2022, a incidência entre crianças de oito anos em 16 Estados era de 1 em 31. No entanto, em 2006 – data mais próxima disponível – o índice era de 1 em 110, e não de 1 em 10 mil. Especialistas atribuem o aumento principalmente a mudanças nos critérios diagnósticos, maior reconhecimento da condição e ampliação das triagens.

Trump também declarou que a Califórnia tem “o problema mais grave”. O CDC confirmou prevalência de 1 em 12 meninos de oito anos no Estado, a maior entre os pesquisados, mas relaciona o número a programas locais de detecção precoce.

2. Vacina tríplice viral deveria ser aplicada em doses separadas

O ex-presidente disse que a combinação de doses contra sarampo, caxumba e rubéola “pode causar problemas” e defendeu aplicações individuais. A hipótese de vínculo entre a vacina tríplice viral (MMR) e autismo surgiu em 1998 com um estudo do médico Andrew Wakefield, depois retirado por fraude.

Pesquisas de grande porte, como um estudo dinamarquês de 2019 com 657.461 crianças, não encontraram qualquer relação entre a MMR e o autismo. Os CDC recomendam duas doses – entre 12-15 meses e 4-6 anos. No Brasil, o Ministério da Saúde indica a primeira dose aos 12 meses e a segunda aos 15 meses (tetraviral). O governo britânico afirma não haver evidência que justifique separar as vacinas, procedimento considerado experimental.

Especialistas alertam que espaçar ou pular doses aumenta o risco de surtos. Em 2024, os EUA registraram 1.491 casos de sarampo e três mortes, o maior número em mais de três décadas.

3. Comunidades amish teriam “quase zero” casos de autismo

Trump citou os amish como exemplo de população praticamente livre de autismo, sugerindo que o menor uso de Tylenol e de vacinas explicaria o fenômeno. A evidência disponível é escassa: um estudo de 2010 com 1.899 crianças em comunidades amish de Ohio e Indiana encontrou incidência de 1 em 271. Pesquisadores ressaltam possível subdiagnóstico, já que muitas crianças deixam a escola após o 8º ano, onde geralmente ocorre a identificação do transtorno.

Não há pesquisas que associem taxas menores de paracetamol ou de vacinação à incidência de autismo entre os amish. A BBC também não localizou estatísticas oficiais sobre o transtorno em Cuba, outro país citado por Trump.

Trajetória de Trump no tema

Desde 2007, Trump menciona suposta ligação entre vacinas e autismo. Em 2017, pediu a Kennedy que liderasse um grupo sobre segurança vacinal. Em 2024, após retirar a própria candidatura presidencial, Kennedy declarou apoio a Trump. Apesar das declarações, o governo Trump incentivou campanhas de vacinação durante o surto de sarampo de 2019 e coordenou o desenvolvimento das vacinas contra a covid-19.

A BBC concluiu que não há base científica para relacionar paracetamol ou vacinas ao aumento de diagnósticos de autismo, tampouco evidências confiáveis que sustentem as estatísticas apresentadas por Trump.

Com informações de Terra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

Mais destaques

Posts relacionados